Era uma vez um menino e uma menina. Ele era tímido e trapalhão e ela era despachada e respondona. Conheciam-se desde sempre. Viviam um ao lado do outro. Ele ensinou-a desde cedo a ter juízo e ela ensinou-o a divertir-se. Quando ele fez oito anos, os pais decidiram mudar-se para o estrangeiro. Ambos choraram e escreveram os seus nomes numa árvore, jurando casar quando tivessem idade para isso. O menino deu-se tão mal com a mudança que cinco anos depois eles estavam de volta. Ele tinha treze e ela onze. O menino correu para a cerca que separava a sua antiga casa da casa da menina. A menina viu aquele rosto que já se encontrava meio difuso na sua memória e correu, também ela, na direcção da cerca. E assim, naquele reencontro, trocaram o primeiro beijo. O menino não voltou a mudar de casa. A menina mudou-se para a casa do menino dez anos mais tarde. Não tiveram mais ninguém. Tiveram cinco filhos, todos loirinhos. O menino e a menina ficaram juntos para sempre, ultrapassaram juntos bons e maus momentos. Ele foi para a guerra e voltou da guerra são e salvo. Com ajuda dela ultrapassou os traumas que para lá adquiriu. Juntos, envelheceram. Viram o Mundo e com os seus cinco filhos viram o mundo acontecer diante dos seus olhos. Um dia o menino partiu. Era a altura de ele ir dali para um sítio desconhecido. Antes de fechar os olhos ele disse à menina: “fico à tua espera, meu amor”.
Esta história não aconteceu, mas era este o conto de fadas que eu queria.
MN.